quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Natureza na gaiola

Tenho uma concepção meio ampla sobre o termo “natureza” que envolve o cosmos. Creio que tudo seja parte de um equilíbrio frágil e delicado, porque tudo que é frágil é delicado e precisa muito pouco para quebrar a harmonia da biosfera. Também acredito que é tudo uma questão de ação e reação: quando nos empenhamos em destruir ou pôr limites, modificando o meio ambiente para satisfazer as necessidades humanas, a natureza reage. É como cuspir contra o vento e o cuspe nos tornar na cara. Mas somos perseverantes nas nossas decisões e insistimos em mudar tudo, esquecendo que também nós somos parte desse equilíbrio frágil e delicado.
Na Europa o Inverno foi longo e frio, e terminou uma semana antes do verão mais quente dos últimos tempos. As tulipas não floresceram, as borboletas simplesmente não apareceram, as abelhas desorientadas não estão produzindo nem polinizando como antes, os pernilongos demoraram a chegar, mais de 700 pessoas morreram por causa da onda de calor na Rússia em pouco mais de um mês. Em Trieste, no nordeste da Itália, foi registrada há dez dias a noite mais quente do país: 31 ºC no horário mais fresco. Quinze dias antes a meteorologia ainda anunciava neve. Algumas árvores não floresceram, o que aliviou um pouco a minha rinite alérgica adquirida no ano passado, mas um monte de outras plantas reagiram desesperadas e ao mesmo tempo, provocando verdadeiras nuvens de pólen, painas e afins, que quase me convenceram a comprar uma máscara. Fiquei com as pílulas, mais eficazes, apesar de detestar tomar remédios. O Caruso parou de cantar e o encontrei escondido na garagem, no subsolo, um lugar fresco e reparado do sol. Me aproximei e ele não voou, mas caminhava apressado, como a dizer para deixá-lo em paz naquela tarde quente e abafada deste verão italiano.
O segundo rio mais longo da Itália e o quarto em volume d’água, o rio Adige na altura de Verona, foi domesticado por margens artificiais que o impedem de invadir a cidade no caso de cheias. Até um túnel foi construído mais ao norte, ligando o rio ao lago de Garda, para eventualmente desviar os excessos do rio, mas por causa da diferença de temperatura e qualidade da água o túnel só foi utilizado em duas ocasiões, em 1966 e em 2000. Já os habitantes chineses que neste momento enfrentam catástrofes anunciadas me lembram São Paulo, com seus córregos e rios canalizados em armadilhas que, mais dia, menos dia, transformará a cidade em um imenso lago. Como fazia o Adige com o seu vale e que, tenho certeza, voltará a fazê-lo um dia. Porque é assim que a natureza reage à nossa teimosia em não nos adaptarmos a ela. Ou alguém tem dúvidas de que no próximo verão haverá uma nova catástrofe em Salvador, por causa das construções nas encostas? Talvez mude a cidade, Rio ou uma outra, pois os erros são sempre os mesmos em qualquer lugar.
A minha sugestão? Que as pessoas decidam mudar-se das megalópoles, transformando-as em cidades menores e que os bairros abandonados sejam devolvidos à natureza. Que os rios sejam desencaixotados e que deixem de ser usados como rede de esgotos. Vão viver nas colinas, respeitando o manto verde que as protege; vão viver em cidades menores, procurando não interferir no ambiente, quebrando quintais de cimento e plantando árvores e jardins; sentindo-se privilegiado se tiver que dividir o espaço com alguma lagartixa, aranha, sapo, morcego ou passarinho. Sem alpiste nem gaiolas. Quem sabe a natureza nos dê uma trégua e aprendemos de uma vez por todas que somos tão frágeis e delicados como qualquer outro ser da Terra, e reconquistamos a harmonia do equilíbrio há muito perdido. Utopia? Fé no ser humano.

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